12 de dez. de 2012

Uma semente cultural bem plantada



No dia 11 de dezembro de 2012 tive a oportunidade de ser convidado para assistir à apresentação do pianista Celso Barrufi Jr. e a violinista Renata Bernardino no auditório da Câmara Municipal de Vereadores de Osório. O evento organizado por Paulo de Campos - diretor de Rima Produções e Rima Aperfeiçoamento  foi altamente relevante em dois sentidos: a qualidade musical e o fato de ser o primeiro espetáculo dedicado inteiramente à música erudita nessa cidade. Em palavras do organizador do evento, “Hoje plantamos uma semente”.

O programa escolhido pelos intérpretes não foi mais um daqueles “fáceis” (para todo público). Pelo contrário, as obras escolhidas eram representativas de um pensamento musical profundo e quase um desafio para uma experiência como esta. Os jovens intérpretes souberam transmitir essa profundidade em todo momento. A violinista Renata Bernardino revelou dotes técnicas e musicais desde a primeira obra, a Légende op. 17 de Henryk Wieniawski, onde já se percebeu a sua capacidade para tirar do instrumento as sonoridades mais adequadas à expressão que a obra exige. Esta capacidade foi ainda mais evidente na Sonata em lá maior de César Franck, onde a música apresenta contrastes muito marcados que exigem um bom domínio dinâmico e, em particular, do uso da corda de sol do violino em trechos de grande agitação ou dramatismo. Nesta obra tão exigente, tanto a violinista como o pianista Celso Barrufi Jr., souberam combinar os dois instrumentos em unidade até, em certos momentos, com uma maestria emocionante. É merecido salientar nesta obra o desempenho de Barrufi, porque a parte de piano da sonata de Franck não é um simples acompanhamento e tem diversas dificuldades técnicas e de fraseado. Para encerrar o programa, Celso Barrufi nos ofereceu uma boa versão da Ballade N°3 op. 47 de Chopin, e A Sertaneja op.15 de Brasílio Itiberê da Cunha (uma obra de estilo marcadamente lisztiano), duas obras onde suas aptidões como solista puderam ser, certamente, muito bem avaliadas. 


Sem dúvida este evento foi uma semente que frutificará e o público, que lotou a sala, confirmou que a música clássica sempre é um sucesso quando é bem apresentada.

GBZ


5 de nov. de 2012

CULTURA NA TV BRASILEIRA, A GENTE NÃO VÊ POR AQUI.




TV. Rica em tecnologia. Fraca em conteudo.

A TV brasileira gera verdadeiras fortunas. Basta ver que a novela “Avenida Brasil” fez com que a Rede Globo lucrasse 2 bilhões de reais em comerciais . No entanto este lucro não reverte em nada em termos de educação e de cultura já que este não é interesse desta ou das outras emissoras. O interesse mesmo é o lucro, o ganho. Tornar um público bem numeroso em verdadeiros “dependentes” da mesmice faz com que o segundo de propaganda levada ao ar seja vendido a um preço astronômico. Se a TV aberta é hoje algo totalmente comercial, é interessante lembrar que nem sempre foi assim. Há algumas décadas a mesma Globo transmitia nos domingos pela manhã um programa de música clássica. E a mesma Globo colocou no ar nos anos 80 um programa excelente chamado “Concertos Internacionais”. Nas sextas feiras, depois do Jornal Nacional, eram transmitidas obras inteiras, sem intervalos comerciais. Pudemos assistir a Nona Sinfonia de Beethoven com Karajan, seguida de diversos vídeos maravilhosos, inclusive um, produzido pela própria Globo, da Orquestra Sinfônica Brasileira, numa produção de altíssima qualidade. Este programa foi adentrando aos poucos na madrugada, e finalmente desapareceu.

14 de set. de 2012

ESCUTAMOS, LOGO PENSAMOS.


A falta de informação, em qualquer terreno, é um fato grave. É tão grave que permite orientar à vontade a opinião pública. Quando uma sociedade inteira acredita em que a informação que recebe com insistência a cada dia é a verdade absoluta, a grande maioria começa a se comportar em forma dirigida pelas mesmas informações.
O problema que estou colocando aqui vai muito além de aquela famosa “guerra” entre manifestações cultas e populares. O problema parece ser uma falta de oportunidades para escutar um gênero de música que representa um patrimônio da humanidade: a música clássica.

Essa falta de oportunidades vai longe de mais. Se a mídia toda, a TV, as emissoras de rádio, os jornais e revistas nas bancas, as editoras de CDs e DVDs, os grandes shows para multidões, tudo, absolutamente tudo, demonstra até mediante estatísticas “qual é” a música preferida por todos, pareceria um fato incontestável. Tão incontestável como que há milhões de pessoas que, por simples desconhecimento, acham que isso que sempre se escuta é “a música” e nem imaginam que exista algo diferente.

8 de ago. de 2012

A que idade se formam nossas preferências musicais? A resposta está no cérebro.

Atualmente se fala muito sobre a necessidade de criar novos públicos para a música clássica. As iniciativas nesse sentido procuram, em maioria, atrair público jovem mediante uma combinação de música e espetáculo visual. Supõe-se que apresentando, por exemplo, um concerto sinfônico combinadamente com luzes e imagens espetaculares, o interesse pela música vai aumentar significativamente e a juventude, acostumada aos grandes shows de música pop, se sentirá assim atraída também pelos “shows” de música clássica. É um assunto muito discutido, naturalmente, porque dessa forma se põe em dúvida o poder emocional puro da música. Não vamos entrar nessa discussão, porque recentes pesquisas científicas sobre o cérebro são muito reveladoras.

Todos nós sabemos qual é o tipo de música que preferimos escutar. Mas raramente nos perguntamos por que é assim, nem lembramos quando foi que começamos a gostar dessa música. Em que idade foi? Por quê?

O que diz a ciência sobre o cérebro?
Pesquisadores determinaram a importância da memória numa atividade desenvolvida no tempo, como é a música. Tem-se observado que a música é muito resistente às transformações dos rasgos básicos, ou seja, podemos reconhecer uma música em particular, embora as versões sejam bem diferentes. Para fazer isso, nosso cérebro realiza cálculos enormemente complexos e seleciona os rasgos permanentes, os que nos permitem reconhecer a versão original. Os modelos da chamada “pegada múltipla” permitem entender desta forma como processamos e conservamos com exatidão a informação sobre a música que escutamos, por exemplo, os intervalos da melodia, os acordes que a acompanham, os sons dos instrumentos, mas, também, o cérebro é capaz de formular abstrações. Acredita-se em que cada experiência é guardada na memória junto à informação do seu contexto. Ou seja, mais simplesmente, quer dizer que nossas lembranças musicais se misturam com acontecimentos que fazem parte da vivência musical. Por isso é que a música tem tanto poder evocativo.

24 de jun. de 2012

Otimizando as horas de estudo.


Quantas horas por dia devem-se dedicar a estudar? Depende do repertório escolhido? Pode depender também das aptidões naturais de cada um? O tempo dedicado deve aumentar necessariamente, se houver apresentações em público? Qual é o papel da memória em tudo isso? Estas e outras perguntas são comuns, igualmente entre professores, estudantes e músicos profissionais.

9 de jun. de 2012

Partituras


Hoje inauguro uma página com uma seleção de partituras da minha autoria. Música sinfônica, para piano, canto e violoncelo. Este é um convite muito especial. Você poderá conhecer-me como compositor: é só fazer um click aqui



25 de mai. de 2012

Importante centro cultural em Osório

Em breve será iniciada a construção do Centro Cultural “Rita de Cássia Madalena Melo” em Osório, com capacidade para 600 pessoas. A inaguração é prevista para outubro deste ano. Mais informação:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2775532446958&set=a.2775111516435.95242.1817498012&type=1&theater

15 de mai. de 2012

A esmola para a cultura.

Certamente, aqueles dias em que as artes eram consideradas algo sagrado já ficaram bem longe: era na Antiguidade, nos dias dos deuses do Olimpo e outras mitologias. Logo, na Idade Média, a cultura européia herdou muito da civilização da Grécia, mas as artes focalizaram-se na inspiração cristã. Mais tarde, durante a Renascença, houve uma grande mudança. O artista tornou-se um súbdito da nobreza que lhe dava tudo – ou quase tudo – para viver: roupas, comida, moradia, espaços e tempo para uma dedicação total às artes... Mas, sempre e quando o artista concordasse com as crenças, preferências estéticas, inclinações políticas e até manias dos nobres que pagavam os serviços prestados pelos artistas. Podemos imaginar que não sempre eram glórias nem reconhecimentos ao talento ou a genialidade, e a história registra casos que foram célebres. Uma discrepância havida entre Mozart e o arcebispo de Salzburgo deu que falar até hoje. Havendo-se negado o compositor a continuar sendo tratado como um servente da corte, e até solicitado para compor música para dançar durante as reuniões sociais onde todos conversavam em voz alta, riam e faziam brincadeiras para se divertir, tudo terminou quando Mozart teve um altercado violento com o rígido arcebispo e foi expulso as pancadas do palácio. Daí em diante, apesar do seu grande prestígio como músico caiu na mais absoluta pobreza. Acabou-se o patrocínio. No entanto, outros não tiveram igual destino, mas foi porque se submeteram à vontade daqueles “sponsors” do século XVIII.

Temos assim uma herança de velhos tempos que perdura até hoje. Inúmeras vezes escutamos falar em dificuldades para obter patrocinadores que apóiem financeiramente a cultura. A arte só pode ser algo “sagrado” (entenda-se de graça pelo amor à arte) ou, caso contrário, há financiamento de parte dos “setores produtivos” que hoje são empresas comerciais. Às vezes o financiamento é do próprio governo que contribui com verbas destinadas à cultura, mas, como se sabe, essas verbas fazem parte do produto da arrecadação de impostos. Essas fontes de financiamento, privadas ou governamentais, sustentam inclusive entidades culturais importantes. Podemos mencionar, por exemplo, o Metropolitan Opera House em Nova Iorque que, após uma quebra financeira quase total, se transformou numa fundação onde vários “sponsors” evitaram a clausura definitiva desse tradicional centro de espetáculos. Qual é a causa de tantas dificuldades para uma gestão artística não ser deficitária? Aparentemente se trataria dos altos custos para produzir espetáculos de alta qualidade, incluindo os elevados cachês dos artistas. Então, mais uma vez, se fecha o círculo vicioso: o dinheiro deve ser providenciado pelas fontes produtivas, porque parece que a arte não pode ser produtiva por si só.

Sem dúvida é um assunto muito complexo e não dá para esgotar aqui um tema tão polêmico. Algumas perguntas freqüentes são: é justo que haja artistas com pretensão de serem milionários contribuindo a elevar os custos e, logicamente, o valor dos ingressos que paga o público?, por acaso a população de baixa renda não tem também direito a comprar arte?, o Estado não tem a obrigação de promover a cultura contribuindo com dinheiro para financiar uma parte dos custos? Sejamos sinceros; tudo isso já foi dito e repetido até o cansaço. Há outra questão igualmente importante.

Hoje, as maiores quantias em dinheiro movimentado em atividades artísticas são destinadas a manifestações de muito pouco conteúdo cultural. Porém, se diz que isso é muito lucrativo, veja-se bem, tanto para os sponsors como para os artistas. Aí já não se fala em financiamento senão em “investimento” – que é um conceito bem diferente. Esses investidores se parecem muito àqueles nobres do século XVIII, porque quem não concordar com o que eles julgam que vale a pena financiar, fica fora. Não interessa se o investimento será feito para promover uma pessoa que nunca estudou nem dedicou horas e anos para se aperfeiçoar. Não interessa se isso vai contribuir, ou não, a elevar a cultura da população de baixa renda. Também não interessa se esses “artistas” ficarão talvez milionários em pouco tempo e com grande sucesso de público. No entanto, as grandes manifestações artísticas devem continuar rogando favores às maiores empresas do mundo e aos governos. Eu perguntaria simplesmente uma coisa só, e deixaria o tema por aqui para pensar. Qual é a causa dessa situação?

GBZ



16 de abr. de 2012

A cenografia da ópera: Uma forma diferente de entender a música?

Vinte anos de história é tempo suficiente para medir os resultados de uma tendência cujo objetivo é captar novos públicos. Essa tendência busca uma atualização do gênero para que seja mais compreensível às novas gerações. Então, a questão é se agora, hoje, os jovens se sentem mais interessados do que no passado. A resposta, infelizmente, é não.

Pior ainda, o público tradicional rejeita essas inovações. Mas qual é exatamente o tema? O público habituado a presenciar espetáculos de ópera já sabe qual é o assunto. Porém, alguém que seja parte do “novo público”, talvez não saiba exatamente de que se trata.

5 de abr. de 2012

17° aniversário da Revista SINFÔNICA.


O seguinte artigo foi publicado em fevereiro de 2012 na página editorial da revista uruguaia “Sinfônica”, celebrando seu 17° aniversário. Com autorização do seu autor, Diego Barreiro Carabetta, reproduzimos aqui a versão íntegra do original em espanhol traduzido para português. É um chamado à atenção sobre o estado atual da música clássica no Uruguai e no mundo. Um artigo para refletir muito.