9 de jan. de 2014

ABORRECIMENTO EM AULA: UM PROBLEMA QUE NÃO É NOVO



Por que é tão trabalhoso interessar as crianças e os jovens pelo estudo?



Logicamente não me refiro ao interesse que um jovem possa ter em se inscrever num centro de estudos pensando em desenvolver uma profissão - às vezes já imaginada quando era uma criança assistindo à escola. A pergunta tem um maior alcance.

Quando uma pessoa curiosa carece de respostas para uma pergunta, sua imaginação é ativada imediatamente. Esse é o primeiro passo para a criatividade. Nesse momento inicia-se um processo onde a pessoa imagina problemas e soluções, dá respostas possíveis, faz pesquisas e provas e talvez termine criando ou descobrindo algo que ninguém tinha imaginado antes.

Os antigos filósofos da Grécia já sabiam disso e tinham métodos de ensino baseados somente em responder às perguntas dos discípulos. Muitas vezes as aulas eram ministradas ao ar livre, para estimular a curiosidade relativa à Natureza. Outras vezes, o maestro colocava alguma incógnita a ser resolvida e os discípulos eram motivados a perguntar. É interessante saber que não havia problemas de má conduta nem aborrecimento em aula.

A pedagogia moderna é ciente de um grande problema. Se verdade é que o impulso de aprender é distintivo do ser humano, por que é tão trabalhoso interessar as crianças e os jovens pelo estudo? Muitos pedagogos atribuem este problema à falta de incentivo para a criatividade. Alguns crêem que as estruturas atuais do ensino estragam o instinto criativo já desde a infância. Afirmam que as estruturas docentes imperantes no mundo representam uma forma quase ditatorial de ensinar. Isto é, pouco ou nada é permitido por fora do que o professor e o programa estabelecem que as crianças e os jovens devem aprender e como devem aprendê-lo. A conseqüência é bem lógica. Os estudantes só acham importante passar as provas com boa qualificação, tomar nota em aula de tudo o que o professor diz e ler os livros indicados.

Pressupõe-se que esta é a forma mais eficiente de preparar aos futuros adultos para se desempenharem no campo laboral e profissional. Um caso extremo desta tendência é o ensino organizado visando à lei do mercado. Temos de estudar só o que o mercado pede ou, caso contrário, há risco de ficar desempregado. Em conseqüência, o vôo livre da curiosidade e a criatividade consideram-se perda de tempo.

Minha atividade docente em música me permite comprovar freqüentemente a conseqüência direta do enfoque predominante em outras áreas do ensino. Quando falamos em arte, as coisas pioram porque é uma das atividades onde a criatividade é mais exigida. Então, alunos já submissos a formas de ensino de base utilitária são capazes de aprender, por exemplo, as escalas perfeitamente e poderiam passar uma prova teórica sem dificuldades. Outros, no entanto, talvez menos adaptados, perguntam qual foi a origem das escalas e daí interessam-se em saber a história; depois perguntam se essas escalas são as únicas possíveis de fazer, etc. Tenho visto pessoalmente que estes últimos não demoram muito em descobrir novas combinações de sons e até compor música. Aos poucos, ficam muito mais adiantados que os primeiros. Por que a diferença?

Gustavo Britos 

        



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