MÚSICA, ÓPERA & BALLET: A NOVA MODA DE TOCAR PIANO - PPP' À VONTADE. ARTIG...: Há
mais ou menos uns trinta anos, prenunciados por um Walter Gieseking que
no início dos anos 50 já tinha essa mania, muitos pianistas famosos e
os nem tão famosos deram início a uma mania de exagerar nos
pianíssimos, principalmente nas escalas, na finalização das mesmas, nos
grupetos e tremolos e em vários ornamentos das composições para piano.
Volto a esse assunto, no qual já toquei “en passant”, depois de ouvir um
CD com o pianista Evgeny Kissin, que vi em Londres nos anos 90 e já
tinha essa mania, exagerar de tal forma no rondó do Imperador de
Beethoven que o exagero deforma totalmente as intenções do compositor.
Era uma gravação, bem certo, mas uma gravação em que o exagero se podia
perceber por simples comparação com outros trechos da gravação.
Recentemente o pianista Ivo Pogorelich
pôs tantos p`s em cima das escalas e ornamentos do segundo movimento do
número 2 de Chopin, na Sala Cecília Meireles, que o desenvolvimento e o
final das célebres frases na região aguda se tornaram quase inaudíveis.
Um pianista francês do qual não lembro o nome (escrevo de memória, e ela
às vezes falha…), em concerto na Sala Cecília Meireles ao qual dediquei
uns escritos neste site, exagerou também nos pppp´s em um concerto,
acho que de Chopin, com orquestra. Se alguém souber de quem se trata,
aceito ajuda.
Não possuo cópia das partituras
originais manuscritas por LvB ou Chopin ou Schumann ou outros
compositores, mas duvido que estes tenham chegado a tais exageros,
principalmente em seus concertos para piano e orquestra.
O público gosta e aplaude as
deformações. Isso é comum. Há anos atrás, o pianista Bruno Gelber no
TMRJ tocou o número 4 de Beethoven (eu estava lá) como se tocasse uma
obra típica de Debussy, deformando o que um indefeso LvB escreveu.
Também escrevi algo a respeito, pois aquele concerto tocado à moda
impressionista soou insuportável a meus ouvidos. E o que já vi e ouvi
fazerem com a sonata a Waldstein é inacreditável. Tomo posição
absolutamente contrária às deformações.
É por essas e outras que gosto de ver e
ouvir Nélson Freire e Martha Argerich. Ele e Martita são incapazes de
exageros de pppp´s, e os usam na medida certa. E recentemente o pianista
Luiz Carlos de Moura Castro deu na Sala Cecília Meireles uma exibição
de como se deve ir aos pianíssimos tocando o número 3 de LvB.
Mesmo em gravações, dá para ouvir e
sentir que mestres da estatura de Arrau (que vi no TMRJ, acho que nos
anos 60), Rubinstein, Horowitz e Benedetti Michelangeli jamais chegam a
extremos deformantes. Nem Bachkaus nem Kempf chegavam. O que temos à mão
são gravações, mas essas em alguns casos servem para algumas
verificações, como nos presentes casos. E duvido que Paderevsky o
fizesse. Ou Busoni. Ou Liszt ou Thalberg… (as suposições são um
direito…).
Aliás, são célebres os maneirismos de
muitos pianistas deformando obras célebres. Entre nós a mania de
exagerar rubatos em obras de Chopin já foi uma praga, hoje felizmente
diminuída. Mas nem Arnaldo Estrela, nem Jacques Klein, nem Moreira Lima,
nem Assis Brasil, nem João Carlos Martins, nem Antônio Guedes Barbosa,
nem Heitor Alimonda, nem Cristina Ortiz, nem o citado Moura Castro ( vi
todos atuando) chegaram aos exageros a que chegam os aclamados Kissin,
Pogorelich, o francês não lembrado e outros da atualidade.
Grande parte da culpa pelos exageros
cabe ao público, que adora um maneirismo, até em JSB, e aplaude os
exageros, a falta de medida. Não é possível discutir com o público, que
gosta do que gosta e pronto. Esse público é mais feliz que eu e outros
como eu. Aplaudem, aplaudem e voltam a suas casas satisfeitos. Quem é
que está certo?
Dou minha opinião, mas não tenho a ousadia de pensar em ser o dono da verdade. Alias, Pilatos, o que é mesmo a verdade?…
GLORIA IN EXCELSIS DEO
MARCUS GÓES- DEZ 2013
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