Por que é tão trabalhoso interessar as crianças e os jovens pelo estudo?
Logicamente não me refiro ao interesse que um jovem possa ter em se inscrever num centro de estudos pensando em desenvolver
uma profissão - às vezes já imaginada quando era uma criança assistindo à escola. A
pergunta tem um maior alcance.
Quando uma pessoa curiosa carece de respostas para uma
pergunta, sua imaginação é ativada imediatamente. Esse é o primeiro passo para
a criatividade. Nesse momento inicia-se um processo onde a pessoa imagina
problemas e soluções, dá respostas possíveis, faz pesquisas e provas e talvez
termine criando ou descobrindo algo que ninguém tinha imaginado antes.
Os antigos filósofos da Grécia já sabiam disso e tinham
métodos de ensino baseados somente em responder às perguntas dos discípulos.
Muitas vezes as aulas eram ministradas ao ar livre, para estimular a
curiosidade relativa à Natureza. Outras vezes, o maestro colocava alguma
incógnita a ser resolvida e os discípulos eram motivados a perguntar. É
interessante saber que não havia problemas de má conduta nem aborrecimento em
aula.
A pedagogia moderna é ciente de um grande problema. Se
verdade é que o impulso de aprender é distintivo do ser humano, por que é tão
trabalhoso interessar as crianças e os jovens pelo estudo? Muitos pedagogos
atribuem este problema à falta de incentivo para a criatividade. Alguns crêem
que as estruturas atuais do ensino estragam o instinto criativo já desde a
infância. Afirmam que as estruturas docentes imperantes no mundo representam
uma forma quase ditatorial de ensinar. Isto é, pouco ou nada é permitido por
fora do que o professor e o programa estabelecem que as crianças e os jovens
devem aprender e como devem aprendê-lo.
A conseqüência é bem lógica. Os estudantes só acham importante passar as provas
com boa qualificação, tomar nota em aula de tudo o que o professor diz e ler os
livros indicados.
Pressupõe-se que esta é a forma mais eficiente de preparar
aos futuros adultos para se desempenharem no campo laboral e profissional. Um
caso extremo desta tendência é o ensino organizado visando à lei do mercado.
Temos de estudar só o que o mercado pede ou, caso contrário, há risco de ficar
desempregado. Em conseqüência, o vôo livre da curiosidade e a criatividade
consideram-se perda de tempo.
Minha atividade docente em música me permite comprovar
freqüentemente a conseqüência direta do enfoque predominante em outras áreas do
ensino. Quando falamos em arte, as coisas pioram porque é uma das atividades
onde a criatividade é mais exigida. Então, alunos já submissos a formas de
ensino de base utilitária são capazes de aprender, por exemplo, as escalas
perfeitamente e poderiam passar uma prova teórica sem dificuldades. Outros, no
entanto, talvez menos adaptados, perguntam qual foi a origem das escalas e daí
interessam-se em saber a história; depois perguntam se essas escalas são as
únicas possíveis de fazer, etc. Tenho visto pessoalmente que estes últimos não
demoram muito em descobrir novas combinações de sons e até compor música. Aos
poucos, ficam muito mais adiantados que os primeiros. Por que a diferença?
Gustavo Britos
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